Por Paula Conc
Foto por Thalita Pinheiro. Edição por Paula Conc
Como é o mundo skateboard na vida de
mulheres skatistas que chegam aos 30 anos de idade? Nota-se que a primeira
diferença, e bastante simbólica, é a
mudança de nomenclatura da categoria. O que antes dos 30 anos era apenas
“Feminino 1 ou 2”, agora agrega um novo adjetivo, o “master”. De acordo com a Confederação Brasileira de
Skate (CBSK), para estar inserida na categoria “Feminino Master” é necessário
ter entre 30 e 39 anos, mantendo-se atenta que para a categoria unicamente
“Master” (homens e mulheres) essa idade
sobe para 35 anos.
Mais que números e nomenclaturas, há uma
quantidade cada vez maior de mulheres que por diversos motivos começam ou
continuam a andar de skate a partir dos 30 anos. Contudo, estaria o universo
skateboard consciente sobre essas mulheres do feminino master?
Aline Dantas, 38 anos, skater master do Espírito Santo, começou
sua trajetória no skate no ano de 1998,
apesar de já ter tido algum contato antes. Na época, sua grande motivação era o
irmão que já andava. No início era uma
brincadeira, até que recebeu uma bronca por andar sentada no skate e sujá-lo de
barro, e então teve que aprender a andar
em pé sobre o skate. O que não foi tão
ruim assim, tendo em vista a incrível skatista que se tornou.
Atualmente o que faz Aline continuar no
skate é poder utilizá-lo como uma ferramenta de transformação, levando às
pessoas sentimentos e atitudes de
alegrias, amor, e compartilhamento. “E isso é muito legal. E não tem preço que
paga. E o skate motiva porque traz esperança.”, diz a skatista. E conclui, “ O skate é além do que a gente
imagina. Ele te dá muito mais do que a gente imagina.”
Sobre as diferenças de ser skatista
antes e depois dos 30, Aline é direta, “Depois dos 30 elas ficam mais intensas.
O físico não é a mesma coisa, apesar de me sentir bem para andar de skate.
Antes dos 20 sempre temos mais gás.” Além da questão do físico, o aumento das
responsabilidades também faz parte das skatistas master, “ Depois dos 30 tem a
questão de trabalho, de escola. Não tenho filho nem sou casada, então é até
mais de boas. Tenho essa liberdade.”
Sobre o futuro, a skatista tem uma
expectativa positiva. Acredita que o skate vai crescer muito de diversas formas
, “Tô feliz pq tenho visto essa cota de meninas novas andando muito ,e isso me
alegra bastante .” Porém , deixa um
alerta: “ Vai começar a entrar mais dinheiro agora, muita gente sendo
beneficiada. Vai ter a guerra. A guerrinha, já existe. (...) A alavancada que o
skate tem dado, tem que ter cuidado. O skate nunca foi esporte de exclusão. E
quando se fala em alto rendimento ele acaba excluindo. Tem que manter o ideal,
pra não se perder na loucura da competitividade.” Ainda assim, para ela, o saldo será positivo, principalmente
a para as mulheres.
De fato, mudanças ocorrem no corpo de todos após os 30
anos. Nas mulheres skatistas a partir
dessa idade, estar com a saúde e a parte física em dia é essencial para manter
o estilo de vida skateboard, uma vez que são muitas alterações. Sobre isso, a skatista master e personal
trainner Rafa Carrijo, 38 anos, explana melhor.
Rafa começou a andar com 14 anos, inspirada pelo irmão e
amigos que andavam na rua. A skatista afirma
que a partir dos 30 anos o metabolismo do corpo das mulheres fica mais lento: “A recuperação fica mais lenta. Podem ocorrer
alguns fatores como: desgaste ósseo, cartilagem, meniscos...facilitando o
surgimento de lesões.”
Indagada sobre a possibilidade das
mulheres de 30 conseguirem andar num mesmo nível de moças mais jovens a partir
da perspectiva do condicionamento físico, Rafa diz que é algo que depende muito
da atleta, mas que é possível: “Se ela
tiver um histórico de fortalecimento muscular bem feito, alimentação saudável e
acompanhamento médico (tipo médico do esporte, fisioterapeuta, osteopata),
acredito que sim.”
Hoje em dia a busca por informações e
disponibilidade de recursos para melhor bem-estar aumentaram. E é sobre esse
acesso e diferenças de atitudes, tanto de indivíduos como de mercado, que a
skatista continua sua fala: “ Na nossa época não tínhamos tanto conhecimento, tantos profissionais
ligados ao esporte. Para fazer justamente esse tipo de trabalho como qualquer
outro atleta precisa. O skate principalmente, porque é um esporte de alto
impacto! É fundamental ter um acompanhamento profissional.” E ainda revela, “Por
isso fui estudar educação física.”
E foi a partir de uma necessidade que
a skatista deu um redirecionamento dentro da sua carreira profissional,
mostrando que o skate influi em muitas áreas da nossa vida: “Quando comecei a estudar eu já era atleta. Mas eu achava que ia trabalhar
com crianças, e tal. Mas quando eu me lesionei é que vi a importância e o que faltou
pra mim. Daí direcionei todo meu final de curso às lesões. Ou melhor, evitar e
recuperar.”E para finalizar, Rafa deixa um recado
importante: “A genética também conta
muito em questões fisiológicas e patológicas. Daí a importância do acompanhamento
dos profissionais de saúde.”
Já Ana Lúcia, conhecida como Aninha,
50 anos, pastora e skatista, nos conta
um pouco mais sobre como é passar sobre essa fase dos 30 e o que podemos
esperar para o futuro.
Aninha iniciou no skate ainda nos anos
80 por incentivo dos amigos, na cidade de Londrina (PR). Enxergou no skate um
estilo de vida, onde fez muitos amigos, ao mesmo tempo que percebia a pouca
quantidade d emeninas praticando. Para ela, o skate deu liberdade e vontade de
vencer as próprias limitações. No momento, a skatista deu uma pausa, devido uma
lesão: “ Até pouco tempo antes de quebrar meu tornozelo e ficar com sequelas,
ainda andava.” Mas continua atuante com um projeto de skate na igreja.
A skater ainda corrobora o que muitos
skatistas falam sobre a importância do skate na vida de muitas pessoas, principalmente
jovens: “ Acredito que o skate pode tirar muitos adolescentes do tráfico, da
vida de furtos, pois ajuda a superar frustrações familiares e também a
construir amizades.” , conclui.
Ser mulher skatista depois dos 30 anos
de idade engloba uma série de mudanças que não pertencem somente ao ato de
andar de skate. Existe toda uma condição em sua volta para que a prática do
skate continue por elas. São condições
físicas, sociais, culturais, econômicas, que de alguma maneira irão afetar o
desenvolvimento dessas mulheres ao andarem de skate.
Tratar sobre mulheres que chegam à
categoria master rende muitos
questionamentos e reflexões. Como outras categorias as enxergam, quais atitudes
as organizações estão tomando perante elas, e qual o futuro? Por
isso, esta matéria não pretende dar um ponto final ao assunto, muito pelo
contrário. Que a partir de agora o
conteúdo aqui explanado seja estopim
para discussões importantes sobre a categoria em diversas esferas.